É comum haver uma idealização do profissional da saúde mental como um ser pleno, sem problemas emocionais, sem gatilhos, com uma vida sem grandes complexidades e de sucesso em diversos aspectos. Muitos colocam o terapeuta em um pedestal de saber absoluto e projetamos tudo que gostaríamos de ser e ter naquele sujeito.
No entanto, é preciso desmistificar esse conceito e entender que o profissional do desenvolvimento humano trata-se de uma pessoa como qualquer outra, que também precisa desenvolver-se e que possui seus desafios.
A área da saúde mental exige muito do nosso conhecimento técnico, mas devemos considerar muito mais que isso. Jung defendia que “o que não se trata em nós mesmos, não é possível tratar nos outros”, ideia que nos convida a refletir sobre a importância do autoconhecimento constante de nós, como terapeutas ou futuros terapeutas.
Uma boa atuação na terapia está diretamente ligada às boas condições do nosso interior, para isso, é de extrema importância estar em dia com as suas questões psicológicas e seu desenvolvimento pessoal. Vários profissionais experientes ou inexperientes se beneficiam da prática terapêutica, por se tratar de um momento ao qual eles podem colocar questões que nem sempre eles irão poder acolher, perceber e considerar.
Ademais, um terapeuta lida diariamente com diversas questões que são trazidas pelos seus clientes e que a longo prazo são absorvidas, podendo sim, trazer uma confusão mental, uma identificação daquela situação com a sua vida, assim ocasionando gatilhos.
Não é porque um terapeuta está ocupando esse lugar que ele está ileso de problemas, questões e processos. Antes de ser um profissional, ele também é um corpo, uma mente, um ser humano. O processo de autoconhecimento é constante e mesmo que ele guie os seus clientes por caminhos tortuosos, ele também precisa ser guiado.
Terapeutas que estão em um processo terapêutico apresentam mais facilidades em ouvir demandas, entender a dor do outro sem julgamento, com maturidade emocional e sem a transferência negativa das queixas.
Além do mais, o profissional precisa ter uma boa base de autoconhecimento e estar sempre em evolução constante para que não confunda situações semelhantes ou iguais dos seus clientes com as de sua vida pessoal. Por isso, é sempre importante estar com essas questões bem resolvidas, evitando uma identificação com os casos que você atende.
Um terapeuta que não está apto a compreender os seus sentimentos, traduzir suas sensações e interpretar seus comportamentos terá muito desafios ao precisar captar as emoções que são trazidas pelo outro, sem tentar trazer as queixas do cliente para si.
Quando essa diferenciação do eu para o outro é bem estabelecida, nos afastamos do risco de falas que revelam projeções nossas em relação à demanda, deixando as do cliente de lado.
Outro fator que deve ser posto na balança é o quanto o terapeuta vive aquilo que ele vende, oferece. Como ele pode assegurar aos outros que a terapia realmente é importante, funciona, se não faz dela algo eficaz e parte da própria vida? É como dizer que aquilo que você oferta é bom e, ao mesmo tempo, não usufruir de todos os benefícios que você oferece.
Autoterapia é o processo de tratar-se ou curar-se sem a ajuda de um terapeuta ou profissional de saúde. É uma abordagem em que a pessoa assume a responsabilidade por sua própria cura ou crescimento pessoal, e busca soluções para seus problemas internos sem a ajuda direta de um terapeuta.
A autoterapia pode incluir a prática de técnicas como meditação, exercícios de respiração, leitura de livros de autoajuda, escrita terapêutica, monitoramento emocional, entre outras atividades. Algumas pessoas também usam terapias complementares, como acupuntura, ioga ou massagem para ajudar no processo.
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No entanto, é importante ressaltar que a autoterapia não deve ser considerada uma substituição completa da terapia tradicional, pois a profissão de terapeuta pode sim nos dar clareza de diversos conflitos e oferecer ferramentas eficazes. Todavia, nem sempre esse leque de ferramentas funciona para fazer a própria análise, já que existem “pontos cegos” que não conseguimos ver ou que geralmente nos negamos a ver. Todos nós temos nossas crenças sobre determinados assuntos, ou até mesmo um comportamento inconsciente que vai se manifestar em determinadas situações e que não será notado por nós, mas que em uma análise terapêutica será percebido.
Em muitos casos, a combinação da autoterapia com a orientação e ajuda de um profissional de saúde pode ser a melhor opção para uma recuperação eficaz.
Dessa forma, é muito difícil pensar em uma autocura, uma autoavaliação, ou até mesmo autoterapia. Elas podem sim e devem ser feitas, mas jamais podemos desconsiderar o tratamento de um profissional, mesmo que sejamos o profissional da mesma área.
Por mais que ele seja o detentor do conhecimento, da teoria e da prática, isso não coloca o profissional como conhecedor e capaz de resolver todos os seus conflitos internos. Nossa mente está em constante evolução, dessa forma é muito comum que no meio da rotina de trabalho o terapeuta se deixe de lado.
Com o passar do tempo, é comum que as questões pessoais evoluam para outros lugares, criando novas demandas que necessitam ser visualizadas e acolhidas, de forma singular e especializada por um olhar de fora e livre de crenças.
Assim como a vida, nossas mudanças são constantes e mesmo que não queiramos entrar em contato com situações mal resolvidas, elas sempre irão emergir. Com uma vida corrida e muito voltada ao cuidado do outro, essa prática de se deixar de lado e acreditar que dar conta de tudo pode levar a outras questões mais graves.
O serviço de supervisão, embora não substitua o cuidado individual da terapia, é de extrema importância no processo terapêutico, tanto para benefício do cliente quanto para o do profissional.
Trata-se de um suporte fornecido por outro profissional com mais qualificações e experiência a um outro em formação, ou de início de carreira. Essa supervisão tem uma característica de mentoria, que serve para guiar o profissional sobre aspectos do seu trabalho sob uma visão de fora.
A supervisão é de extrema importância para a atuação do profissional do desenvolvimento humano, uma vez que ajuda o colega de profissão a estar dentro dos limites éticos e efetivos dentro do processo terapêutico.
Dentro dessa supervisão você poderá trazer casos dos seus clientes que sejam difíceis de se resolver, para juntos vocês buscarem estratégias para solucionar as demandas através de uma análise que não está sob influência do caso. Esse momento te trará clareza de técnicas, ou de comportamentos despercebidos que estejam prejudicando o processo, seja pelo terapeuta ou pelo cliente, alinhando o caso aos objetivos terapêuticos e tornando-o mais efetivo.
Além disso, a supervisão em psicologia é uma oportunidade para o psicólogo em formação desenvolver habilidades de autoreflexão, autoavaliação e autoconhecimento, que são essenciais para uma prática clínica efetiva e ética.
Um bom terapeuta não dá conselhos baseados em sua experiência, ou fala de si mesmo quando o foco é o outro. Oferecer terapia para alguém significa ouvir mais do que dizer e agir. É um processo de protagonismo do outro se reconhecer, e não uma oportunidade de você opinar ou dar relatos, conselhos sobre você e suas vivências.
Isso, entretanto, é impossível quando o profissional tem questões mal resolvidas e se depara com um cliente de caso semelhante. A consequência será uma atuação baseada na tentativa de resolver os problemas do cliente como se fossem os seus.
A perda de foco, inclusive, tem a ver com o acúmulo de emoções. Por mais que uma pessoa esteja preparada, na teoria e nas técnicas é impossível não absorver as questões do outro.
O problema fica intenso quando há dificuldade de lidar com os casos, por trazer diversos gatilhos. Esse movimento pode ser muito perigoso tanto para o cliente quanto para o terapeuta.
Imaginemos um caso de violência doméstica: o cliente chega fazendo o relato. Tal relato trará à tona ao terapeuta sua infância, pois sua mãe também foi uma vítima de violência doméstica.
Sem estar com essas questões resolvidas, dificilmente o terapeuta irá conseguir criar um processo terapêutico efetivo e ético. Dessa forma, a terapia serve para aliviar essas emoções e garantir uma atuação mais clara possível.
Estamos em constante aprendizado, ao ver a atuação do outro podemos ter ideias de como lidar com nossos clientes e de como nos comportar como terapeutas. Não se trata de imitar tal conduta, até porque tantos os casos como as pessoas são únicas, mas aprender com aquilo e absorver de forma crítica para sua prática profissional.
Como dito anteriormente, estamos em constante aprendizado. Estar em uma terapia com uma abordagem diferente da sua, te permite explorar novas abordagens e técnicas, te dando uma visão de como funciona e levando até uma novidade para sua atuação profissional. É uma forma de gerar interesse por novas possibilidades, ou mesmo de fortalecer um processo de aprendizado, que já está em curso.
Cuidar do outro muitas vezes cerca uma linha tênue, pois deixamos de cuidar de nós mesmos, nesse sentido é muito importante saber que podemos contar com alguém para descarregar questões tão sensíveis que cercam o dia a dia.
A terapia para psicólogos vai servir como um apoio emocional e, como consequência, ficam integrados e conseguem conciliar as exigências pessoais e as do trabalho.
A psicoterapia pode ajudar a lidar com as suas próprias questões pessoais e emocionais, aperfeiçoar suas habilidades de escuta e empatia e melhorar suas capacidades profissionais. Através da terapia, os profissionais podem compreender melhor a si mesmos e sua forma de relacionar com os outros, o que pode ser aplicado de forma benéfica na relação terapêutica com seus próprios clientes.
Além disso, fazer terapia sendo terapeuta pode ajudá-lo a evitar a fadiga emocional e o burnout, uma vez que a profissão pode ser bastante desgastante emocionalmente. Vale ressaltar que, assim como para qualquer outra pessoa, a terapia é uma escolha pessoal e nem todos os terapeutas optam por fazê-la. No entanto, muitos reconhecem a sua importância como um processo contínuo de desenvolvimento pessoal e profissional.