cultura do cancelamento

Cultura do Cancelamento: Como funciona, e quais os seus impactos?

É cada vez mais fácil apontar quem não é “um de nós”, alguém que, de alguma forma, representa uma ameaça aos nossos valores. Essa é a base para a cultura do cancelamento, cujo princípio é a retirada de voz das pessoas que estão “do outro lado” e agem ou falam de maneira inaceitável para um determinado grupo.

Não é novidade que a internet tem suas bolhas, espaços onde pessoas com pensamentos semelhantes se reúnem para discutir questões do seu interesse. É uma atitude natural do ser humano, que se torna mais fácil quando podemos encontrar os “nossos” em qualquer lugar do país ou do mundo.

Da mesma forma, é cada vez mais fácil apontar quem não é “um de nós”, alguém com pensamentos diferentes e que, de alguma forma, representa uma ameaça aos nossos valores. Essa é a base para a cultura do cancelamento, cujo princípio é a retirada de voz das pessoas que estão “do outro lado” e agem ou falam de maneira inaceitável para um determinado grupo.

O que é cultura do cancelamento?

A cultura do cancelamento atua como uma forma de exclusão de uma pessoa, grupo ou marca em posição de visibilidade, após ter cometido atitudes julgadas como erradas ou incoerentes.

Os “cancelados” sofrem consequências que o público virtual acredita serem justas, atuando como uma forma de punição, sendo as mais comuns: perda de seguidores e patrocínios, isolamento, exclusão social, experiência de anonimato, invisibilidade, perda de posição ou prestígio, e, consequentemente, dinheiro.

O tribunal da internet não permite que os acusados sigam suas vidas sem as devidas punições. Geralmente os maiores cancelamentos envolvem expressões de racismo, LGBTfobia, machismo, gordofobia, intolerancia religiosa, posicionamento político e outros assuntos tidos como polêmicos ou complexos.

Só existe cancelamento no ambiente virtual?

No ambiente virtual, a cultura do cancelamento é mais visível, já que em poucos dias alguém pode perder números evidentes de seguidores e patrocínios; mas no meio social o cancelamento também pode existir e com as mesmas consequências.

Geralmente ele se manifesta somente pelo afastamento do grupo, para que a pessoa sinta que suas atitudes desaprovam, mas em alguns casos pode gerar resultados mais notáveis, como demissões e processos judiciais.

As consequências do cancelamento

O cancelamento tem atuado de forma mais cada vez forte, causando danos até para a vida mental da pessoa afetada. Esse impacto psicológico pode agir como um gatilho para depressão, ansiedade, transtorno de pânico e comportamentos de risco (uso de drogas, violência, etc.).

A cultura do cancelamento faz as celebridades temerem, principalmente quando participam de reality shows. O medo de mostrar-se ao vivo por um longo período para um público disposto a cancelar a qualquer momento faz com que muitas figuras públicas evitem se expor sem a análise de uma equipe de marketing.

Um exemplo muito comum de cancelamento aconteceu no Big Brother Brasil 21. A cantora Karol Conká, tida como fora do progama uma mulher envolvida em questões sociais, principalmente na luta antirracista e de empoderamento feminino, foi “cancelada” durante o programa. Segundo a cantora, o problema chegou a gerar ameaças contra seus familiares.

O caso aconteceu após o que foi visto como tortura psicológica por parte dela contra outro parcipante, que pediu para sair do progama. Karol Conká foi “eliminada” pouco depois, com 99,17% do público votando pela sua saída - recorde do BBB.

Foi preciso um processo de renovação de imagem na tentativa de erguer novamente a popularidade da cantora, que por muito pouco não perdeu a carreira. Durante um período, ela decidiu se afastar das redes sociais e concentrou-se  no seu processo de autoconhecimento, buscando ajuda psicológica para entender as causas de seu comportamento.

Carol não foi um caso isolado de cancelamento - esse fenômeno vem crescendo de forma assustadora, sendo muitas vezes rebatido com outros erros, discursos de ódio, ameaças, violência psicológica e até mesmo física.

Algoritmo do cancelamento

As redes sociais são movidas por algoritmos, fórmulas de computador que definem quando alguém recebe mais engajamento, e o que aparece na tela do seu celular, por exemplo. Quanto mais o nome de alguém é citado, mais engajamento ele recebe, alcançando um público que nem se interessava por essa pessoa, e espalhando cada vez mais o cancelamento.

O algoritmo não avalia o impacto da informação, apenas a propaga.

Muitos artistas, inclusive, revertem esse momento e o utilizam para publicar livros, lançar campanhas e afins, aproveitando a exposição. É importante considerar, no entanto, que nem todos reagem da mesma forma, e para muitos o cancelamento gera vulnerabilidade e pressão emocional.

A cultura do cancelamento é algo positivo?

Sabemos que o cancelamento é fruto de uma atitude de desaprovação, e muitas das pessoas envolvidas tem comportamentos ou falas que realmente podem ser vistos como inapropriados - mas qual o critério para a resposta? E quem define o que merece ou não ser cancelado?

Michel Foucault, filósofo francês, em seu livro Vigiar e `Punir (1975), fala sobre a sociedade disciplinar - feita de escolas, prisões e hospícios, para discutir o impacto da extrema vigilância, no qual o poder é exercido para impor condutas aos indivíduos, ditando a maneira como eles devem agir.

Foucault alega que o indivíduo vive em constante “meio de confinamento”, vigiando e sendo vigiado pelo outro, seja na família, na escola ou no trabalho. O ambiente virtual deu origem a um novo espaço de vigilância e punição, mas não é a origem desse comportamento.

No fim das contas, é muito difícil traçar uma linha entre o que é aceito e o que merece cancelamento - mas talvez a questão mais importante não seja essa. É preciso dar um passo atrás e pensar a cultura do cancelamento em seus vários impactos, encontrando formas de usar os “erros” de outras pessoas como pontos de reflexão e aprendizado, e não apenas como um alvo para atacarmos.

Existem dois lados na história - o impacto psicológico e material à vida de quem é cancelado, e o cuidado com questões importantes para a sociedade, como racismo ou machismo, por exemplo.

Num desses lados, é preciso medir as consequências do cancelamento, e do outro, é preciso garantir que algumas pessoas não usem sua visibilidade para ofender certos grupos, ou até ou defender a violência contra eles, por exemplo. São linhas finas e questões complexas, que certamente não se resolvem com respostas simples como o cancelamento ou a liberdade de expressão irrestrita.

Conclusão

A cultura do cancelamento é de fato um fator de risco para a saúde psicológica dos usuários das redes sociais, podendo agravar ou despertar transtornos mentais como ansiedade, depressão, vícios e fobias.

Nesse momento, conscientizar-se que não cabe a você julgar as atitudes do outro é o primeiro passo. Se houve um crime, ele poderá ser julgado pelas vias legais, e se foi um erro, cabe à pessoa reconhecer e ter maturidade para melhorar.

Artigo publicado em:
01/04/2022
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Romanni Souza

Criador da Hipnose Transformacional, graduado em psicologia pelo Unipam, e pós graduado em neurociências pela PUCRS. Fundador do Instituto Romanni, com mais de 20 mil pessoas transformadas.

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